PARTE I - UM PRÓLOGO
ANTES DE MAIS, UMA DANÇA AFINADA E APERTADA EM TORNO DOS TORNOZELOS TONTOS DE DOR E SALTARELLO QUE TE DIZ DE TUDO O QUE POR MIM DIZES ENQUANTO MEU POETA, RAPAZ QUE AMO, SUJEITO POLÍTICO, RAPARIGA A QUE DOU A MÃO NA CIRCUNSTÂNCIA ERRADA, ETC.. CHAVE: "O PENSAMENTO NÃO FALHA".
PARTE II - A NARRAÇÃO EMANCIPADA
ELE, JOVEM HEDONISTA ORIUNDO DE COMUNA ALENTEJANA DE ORIENTAÇÃO HOMOEXPERIMENTAL. INTERESSES: PORNOGRAFIA; ROLAND BARTHES; BANCOS DE JARDIM. ELA, IMPLACÁVEL MAS SECRETAMENTE EMPÁTICA REVOLUCIONÁRIA AFRO-DESCENDENTE - RECICLA.
JUNTXS XS NOSSXS PROTAGONISTAS APROXIMAM-SE DA ENTRADA DE UM TÚNEL ESCAVADO NA TERRA REMEXIDA E SECA DE UM MONTE EM SANTARÉM, CERCA DE 2030. AMBXS PROCURAM RESOLVER O MISTÉRIO DE UMA MENSAGEM ENCRIPTADA NAS ESTRANHAS FANTASMAGORIAS ARQUEOLÓGICAS DA IN-TER-NET: UM SINAL DO AQUÉM?
ISTO É FICÇÃO CIENTÍFICA OU COMENTÁRIO POLÍTICO? CALA-TE: FALSA OPOSIÇÃO.
PARTE III - O DIÁLOGO ESPIRITUOSO & A DIALÉCTICA DAS PERSONAS SEXUAIS
Ele: "Isto não parece digno de uma estória de super-heróis."
Ela: "Ah é isso que isto é? A mim tem-me parecido ter um jeito mais folclórico; estou semi à espera de encontrar uma moura cantante numa caverna ao pôr-do-sol."
Ele: "...Isso não é racista?"
Ela: "Tu vais dizer-me o que é racista? Sou eu que estou de idumentária militar 'irónica'?"
Ele: "O que é que isso tem a ver? É uma sátira por via da sexualização. A fetichização --"
Ela: "É mas é o caralho! Estou a ficar farta desta conversa e se tu não --"
Ele: "Calma! Ouve. Eu não sei ao que venho, nem tu sabes ao que vens e certamente não chegamos a lado nenhum assim."
Ela: "Continuas a ser uma piada de mau gosto."
Ele: "Ponto aceite. Tu continuas a ser uma moralista de primeira. Vamos andando?"
PARTE IV - O NARRADOR EMANCIPADO
SUSPENDO O TEU CLÍMAX! REPRESENTO EM VEZ DE FIGURAR, INDEXO EM VEZ DE PRODUZIR: DIGO-TE LOGO QUE AO FUNDO DO TÚNEL HÁ UMA CRIANÇA DE APROX. 5 ANOS MAS plot twist 1) É UMA CRIANÇA CIBORGUE E plot twist 2) É O SUBPRODUTO DE EXPERIÊNCIAS LABORATORIAIS NEO-SALAZARISTAS!
QUE RASGÕES METAFÓRICOS SE SUCEDEM? QUEM DESTRÓI QUEM NUM RIBATEJO PÓS-APOCALÍPTICO MAS/LOGO MUITO SOLARENGO? COMO É QUE TENSÕES ÉTNICAS, SEXUAIS, COMUNITÁRIAS E POLÍTICAS SE MATERIALIZAM NUMA MALHA DE TORSÕES RELACIONAIS IMPREVISTAS MAS FRUTÍFERAS? QUE INESPERADA VERSÃO DE ANTI-HEROÍSMO EMERGE DA TRIANGULAÇÃO DOS CORPOS DO FUTURO? O QUE É UM SÍMBOLO E O QUE É UM ACIDENTE DEPOIS DO ÉPICO MORRER MAS ANTES DE EU APRENDER A FAZER BANDA DESENHADA?
SUCINTAMENTE: RECUSO-ME A RESPONDER.
PARTE V - O NARRADOR MELANCÓLICO?
Podia falar disto com a minha terapeuta - podia falar de tudo com a minha terapeuta; entendemo-nos mesmo muito bem - : tenho fantasias recorrentes sobre criar um romance ou novela gráfica sobre um grupo misto de personagens de filiação mal-justificada vaguearem mais ou menos sem rumo por um Portugal pós-apocalíptico em que faz sempre sol (essa não é a parte pós-apocalíptica; só mesmo um grafismo internalizado de para-Inglês-ver). O problema é que sempre que me sento para escrever a história preciso de motivações e arcos narrativos e resoluções dramáticas e desisto de tudo; tudo o que verdadeiramente quero é reter a sensação sem me ocupar demasiado tempo a fabricar o espaço. Tem só a ver com fazer sol e ser depois.
PARTE VI - O MOMENTO REFLEXIVO
Quando passo das maiúsculas indiferenciadas à tonalidade normativa, é porque tenho emoções, que é só dizer: alguém aceita ler-me.
PARTE V - HOJE
Hoje, tive vontade de chorar mas não saíu, por isso falei um bocadinho contigo e tentei escrever o início de uma estória de ficção científica, começando pelo meio.
PARTE VI - OU ENTÃO
HOJE TIVE VONTADE DE CHORAR MAS NÃO SAÍU POR ISSO FALEI UM BOCADINHO CONTIGO E TENTEI ESCREVER O INÍCIO DE UMA ESTÓRIA DE FICÇÃO CIENTÍFICA COMEÇANDO PELO MEIO.
PARTE VIII - EPÍLOGO: RIP TRISH KEENAN
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